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João Pedro Mendes
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O que mais o fascina na área de Compras?

O conhecimento profundo com que ficamos do negócio onde estamos inseridos. Qualquer aquisição – de valor avultado ou não, bem ou serviço, associado ao core do negócio ou não – passa pela actividade de procurement o que faz com que estejamos no centro da decisão. Outro aspecto de fascínio é a possibilidade de trabalharmos com as diversas áreas do negócio, seja TIC ou Comunicação, Recursos Humanos ou Financeiros, Legal e Compliance ou equipas Operacionais ou de Produção, colocando a área de procurement numa posição privilegiada para dar a sua análise crítica em qualquer análise do negócio. Por último, o trabalho directo com um dos principais stakeholders de qualquer empresa, os Fornecedores, com os quais temos a oportunidade de aprender ainda mais sobre todos os aspectos já enunciados e firmar relações de parceria que se estendem por muitos anos.

O que o levou a escolher esta profissão?

Tendo iniciado a minha actividade profissional por via da minha formação académica, a actividade de procurement surge anos mais tarde como uma oportunidade de mudar e experimentar novos desafios e de fazer parte de um momento muito importante na empresa, de reestruturação da função, centralizando-a numa única estrutura capaz de ter todas as valências essenciais para se tornar na referência em Portugal, o que veio a acontecer.

Qual a negociação que mais aprendizagem lhe trouxe?

Face às várias funções e responsabilidades por que já passei, torna-se difícil senão impossível seleccionar uma em particular, dada a transversalidade de temas, complexidade ou importância. No entanto, se tiver que destacar uma, destaco as relacionadas com a contratação pública que, face à complexidade da legislação que a suporta, obriga a uma aprendizagem constante e a uma análise jurisprudencial e doutrinal em contínuo, numa entreajuda salutar e determinante entre a área de procurement e a área jurídica.

Qual o objetivo do Procurement que mais o motiva?

Ajudar a organização a atingir os seus objectivos de negócio através na garantia de conseguir o maior valor para os stakeholders. E quando refiro "valor", propositadamente deixo de fora o habitual "menor custo" porque a área de procurement não é nem pode ser vista como a última etapa para baixar preço. Deve ser, isso sim, parte de uma estrutura que, em conjunto, consegue garantir qualquer fornecimento de acordo com as melhores práticas, alinhadas com os requisitos técnicos mínimos e valorizadas quando os extras acrescentam valor. Num outro ângulo, o facto de, muitas vezes, fazermos parte do crescimento de um fornecedor, é algo que também é motivador, o facto de, com as nossas garantias, os fornecedores saberem as regras do jogo e baterem-se de igual para igual para crescerem.

Qual considera ser o maior desafio das equipas de Procurement dentro das organizações?

Descolar da imagem de compradores que olham apenas a custo.

O que considera ser o factor que mais contribui para o sucesso de uma negociação?

Confiança. A actividade de procurement assenta o seu sucesso na confiança. Na confiança da organização de que a equipa saberá defender os interesses da organização (sejam eles de compliance, jurídicos, técnicos, financeiros ou operação) e confiança dos concorrentes, que têm de ter a certeza que estão em igualdade de circunstâncias com o resto dos concorrentes e que a diferença entre ter contrato ou não é resultante da capacidade competitiva inerente à sua organização e não devido a factores externos que não controlam.

Quais são, na sua opinião, as tendências atuais mais relevantes no Procurement

Com as recentes disrupções derivadas da pandemia e da guerra e uma cada vez maior incerteza geopolítica, o procurement tem como actuais preocupações em ter ferramentas que lhe permita (i) prever com maior acuidade os impactos que os eventos globais possam ter na capacidade de os fornecedores responderem às necessidades do negócio, (ii) mapear toda a cadeia de fornecimento, desde os fornecedores tier 1 até tier n para que a organização esteja melhor preparada na substituição de fontes caso necessário e (iii) reforço da relação com fornecedores no sentido de garantir a maior previsibilidade possível das necessidades de negócio, no médio e longo prazo para que estes possam trabalhar em modelos mais robustos de garantia de capacidade de produção.

Quais as três competências-chave que permitem a um profissional de compras dar resposta aos desafios atuais?

Relações interpessoais e projeção de imagem - Qualquer profissional de procurement é, em simultâneo, a imagem que um fornecedor tem da organização com a qual pretende ter uma relação de parceria pelo que estes profissionais têm de ter a capacidade de representar a sua organização em qualquer contexto, transmitindo confiança e a imagem que a sua organização pretenda que se tenha dela. Internamente, fruto da centralidade desta função, tem de saber lidar com diferentes sensibilidades e interesses e fazer da diferença um factor diferenciador e positivo para a obtenção de resultados. Abertura à mudança e flexibilidade de pensamento - Nem tudo é preto e branco e no procurement, mais do que uma hipótese, é um facto pelo que estes profissionais terão de saber adaptar às exigências da sua função com as exigências do negócio. Capacidade dedutiva e analítica - Em qualquer processo, um profissional tem de lidar com séries históricas (índices matérias primas, preços de aquisição, custos de contexto e de factores de produção) assim como com dados preditivos para os mesmos factores e saber relacionar esta informação com restrições, excepções ou investimentos no seio da sua organização.

Após estes anos de experiência o que teria feito de diferente na sua primeira negociação?

Provavelmente nada. A primeira negociação reflectiu isso mesmo, a primeira negociação. De alguém inexperiente que pode não ter sido o melhor negociador do mundo e certamente inadequado a estar numa mesa de negociações das Nações Unidas. No meu percurso, em alguns momentos teria feito coisas diferentes mas, depois destes anos nesta actividade gostaria de realçar o que não faria de diferente. Manter o mesmo respeito e confiança que tenho conseguido ter entre os meus pares e interlocutores.

Quem já negociou consigo, como a(o) descreveria?

Creio que a resposta anterior responde a esta. A preocupação de que, por muito dura que seja a negociação ou as mensagens a passar, que as mesmas sejam tratadas com total respeito e confiança.



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