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Luís Teixeira
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Em 1994, Sir Michael Anthony Latham um membro conservador do parlamento britânico escreveu aquele que viria a ser conhecido como Latham Report - um relatório que pretendia rever os modelos de procurement na indústria de construção do Reino Unido com o objetivo de encontrar respostas para os problemas de crescimento que se atravessavam na altura.

Nesse relatório destacou-se uma frase que pode ser aplicada a todas as indústrias. Os riscos podem ser geridos, mitigados, partilhados, transferidos ou retidos. Mas não podem ser ignorados!

Compreender todos os riscos associados a qualquer projeto ou operação e encontrar ferramentas para a sua gestão é essencial para uma estratégia de compras adequada em qualquer empresa. A identificação e quantificação dos riscos deve ser integrada nas estratégias das empresas de forma holística incluindo nos processos de procurement.

Há quem acredite que a gestão de risco é uma ciência, outros acreditam ser uma arte. De facto, a palavra risco tem origem na palavra italiana "risicare", ou seja, "ousar". O risco é uma escolha e não um destino. Temos consciência do que poderá acontecer, se decidimos avançar é uma escolha nossa. E fazê-lo de forma sustentável pode mesmo ser uma arte.

E é isso que fazemos na WTW. Ajudamos as empresas de todo o mundo a gerir os seus riscos. Fazemo-lo desde 1828 quando Henry Willis se registou como membro do Lloyd's para segurar as mercadorias que tinha vendido previamente à comissão, reduzindo assim o risco financeiro de que algum acidente ocorresse durante o transporte.

Atualmente, na WTW não somos apenas um corretor de seguros de transportes marítimos, desenvolvemos soluções de gestão de risco com base numa abordagem analítica e no conhecimento das nossa equipas especializadas nas diversas áreas uma vez que os riscos a que estão expostas as empresas são cada vez maiores e mais complexos. Seja um ataque cibernético que pare a operação durante semanas ou meses, dirupções nas cadeias de fornecimento globais, ambientes geopolíticos instáveis ou fenómenos da natureza e as alterações climáticas que podem impactar os locais onde se situam os meios de produção ou as matérias-primas.

Ao longo dos tempos, as empresas que melhor souberam gerir a incerteza e acontecimentos adversos foram as que foram prevalecendo, encontrando formas de sobreviver e serem sustentáveis a longo prazo garantindo postos de trabalho, os interesses dos investidores e garantir os serviços e produtos necessários às comunidades. Nos últimos anos tem vindo a adensar-se a visibilidade dada à sustentabilidade.

Em 2004, através do Pacto Global da ONU em parceria com o Banco Mundial, surge a publicação "who cares win" onde se cunhou pela primeira vez o termo ESG, após um desafio lançado pelo então secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEO's de grandes organizações financeiras para serem incluídas nas estratégias das empresas as preocupações de cariz social e de governança de forma mais estruturada e transversal. Acreditava-se que a adoção de iniciativas neste sentido geraria mercados mais sustentáveis e proporcionaria melhores resultados para as organizações.

Em 2020 surge o Manifesto Davos "The Universal Purpose of a Company in the Fourth Industrial Revolution" que destacou um conjunto de 22 métricas que são na prática objetivos a atingir por cada empresa que pretenda comprometer-se com políticas que reforcem a prosperidade a longo prazo através da criação de valor para todas as partes interessadas, investidores, trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidades e a sociedade em geral.

Em última análise, os Diretores e CEO's precisam de pensar no ESG como parte da estratégia global da empresa. Esta é uma tendência macro que está a ganhar ímpeto e estudos do MSCI em 2017 e da Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque em 2021 sugerem que, ao longo do tempo, as empresas focadas na ESG têm geralmente menor risco e maior crescimento dos lucros, maior retorno ativo e dividendos mais elevados.

As empresas estão cada vez mais pressionadas a estabelecer objetivos claros para reduzir os riscos, medir eficazmente o seu progresso e reportar a evolução de uma forma transparente. Mas qual será o papel dos gestores de risco no desenvolvimento e na gestão das estratégias ESG das empresas? Quais os desafios, quais as oportunidades?

No final de 2022 a WTW lançou os resultados do seu estudo "How ESG factors are shaping risk management and the role of risk managers" e concluiu que quando muitas organizações pensam no risco de ESG, posicionam-no sobretudo como risco de reputação. No entanto, para gerir eficazmente o ESG é necessário dividi-lo em riscos controláveis, medi-los, e estabelecer um processo de gestão do risco em torno deles.

Neste estudo, 74% dos inquiridos indicaram que melhorar a pontuação do ESG da sua organização é hoje um foco central para o negócio. No entanto, apenas 17% têm objetivos documentados com métricas claras e 77% acreditam que a função de gestão de riscos deveria assumir um papel mais ativo nas iniciativas e estratégia dos ESG.

Por exemplo, na componente ambiental, mais de 80% das organizações está a discutir ativamente objetivos climáticos, no entanto outros objetivos de gestão de riscos climáticos são frequentemente mais vagos ou ausentes.

Na componente social, muitos dos inquiridos identificam como prioridades na gestão de riscos as áreas relacionadas com a privacidade dos dados e o risco informático, a segurança no local de trabalho e a responsabilidade pelos seus produtos e emprego.

Na área de governance verifica-se que a gestão e governação do risco tendem a resumir-se muitas vezes a iniciativas de due diligence desenvolvidas por consultores e corretores de risco. O envolvimento mais amplo da gestão do risco na definição de políticas de governação é frequentemente mais fragmentado e centrado no cumprimento de práticas de compliance. Apenas pouco mais de metade dos inquiridos, por exemplo, dizem que trabalham com as equipas de procurement em áreas como a avaliação dos riscos associados à gestão da cadeia de fornecedores.

Desta forma, a gestão de risco tem um papel fundamental na execução da estratégia de sustentabilidade das empresas tendo como principal desafio a sua integração de forma transversal em toda a organização, desde as compras aos recursos humanos, e por conseguir ganhar espaço e peso na definição e execução da estratégia das empresas. As principais oportunidades são claras na medida em que uma gestão de risco estruturada ajudará as empresas a serem sustentáveis a longo prazo capacitando os gestores com práticas e ferramentas que darão maior robustez à gestão para navegar em ambientes de grande incerteza económica, financeira, social e climática.

Afinal, como disse Sir Michael Anthony Latham, os riscos podem ser geridos, mitigados, partilhados, transferidos ou retidos. Mas não podem ser ignorados.

Luís Teixeira



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